quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sobre os melhores

Uma coisa que este mundial de futebol mostrou é que o nosso melhor jogador do mundo está a anos-luz do melhor jogador do mundo da Argentina, do melhor jogador do mundo do Brasil, do melhor jogador do mundo de Espanha, do melhor jogador do mundo da Alemanha, do melhor jogador do mundo da Holanda, do melhor jogador do mundo do Uruguai, do melhor jogador do mundo do Gana e ainda dos melhores jogadores do mundo de mais uma dúzia de países.
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Resumo do nosso mundial

É a ideia com que fico depois da saída da selecção nacional do mundial da África do Sul. Carlos Queiroz, uma vez mais, ficou muito aquém do que o cargo que desempenha exige. Desorganizado e péssimo comunicador (duas características que estava longe de imaginar para ele), voltou a revelar um grande desconhecimento em relação ao futebol e uma confrangedora capacidade de liderança. Mostrou ao mundo uma imagem errada do futebol português, que podia ser conhecido por tudo menos por ser ultra-defensivo e desprovido de criatividade. E conduziu de forma absolutamente incompetente o jogo em que a Espanha nos eliminou; um exemplo, o principal, foi a despropositada substituição que pouco antes do golo espanhol acabou com o jogo de Portugal (lembrei-me de um episódio de há pouco mais de 16 anos, quando o Sporting com ele a treinador perdeu um campeonato em Alvalade, nos seis a três com o Benfica, com a célebre substituição do defesa esquerdo Paulo Torres ao intervalo).
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domingo, 27 de junho de 2010

Camões

Isto não tem que ver com gostar ou não gostar de Camões. O que aqui se percebe é que a frase de José Sócrates a propósito de Mário Soares («Eu gosto dos políticos que gostam de Camões.») traz logo à memória a célebre resposta de Cavaco Silva na televisão depois de lhe perguntarem se sabia quantos cantos tem «Os Lusíadas». Cavaco, como seria de esperar, não sabia, mas não teve coragem de assumir que não sabia e andou durante um bocado às voltas a dizer que se tratava mais da especialidade da mulher do que da dele. Curiosamente, alguns anos depois, uma universidade (a de Goa) resolveu atribuir a Cavaco um doutoramento, ainda que honoris causa, precisamente em literatura. Uma decisão tão incompreensível quanto leviana. A menos que tenha sido tomada por ignorância, o que sempre pode ser visto como atenuante. Além disso, ignorância por ignorância…
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quinta-feira, 24 de junho de 2010

António Souto – Crónica (25)

Crónica cava
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Pelo meio destes montes e vales, uns «peques» revistos por mor do défice e umas comissões de inquérito que quanto mais inquirem menos concluem. Tudo à portuguesa e com uma Europa ameaçada e ameaçadora. Viva e valha-nos a África do Sul 2010, lenitivo da nossa alma e das nossas mínguas!
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Há crónicas cuja substância consiste em não ter substância nenhuma. Crónicas vazias, cavas, inúteis. Há crónicas que não adiantam nem atrasam. É o caso desta, aparvoada, como aquilo que vai dentro dela. Junho inteiro.
Primeiro, a disforia da crise. A seguir, a euforia do Papa. Depois, de novo, a disforia da crise. Agora, a euforia do futebol! Pelo meio destes montes e vales, uns «peques» revistos por mor do défice e umas comissões de inquérito que quanto mais inquirem menos concluem. Tudo à portuguesa e com uma Europa ameaçada e ameaçadora. Viva e valha-nos a África do Sul 2010, lenitivo da nossa alma e das nossas mínguas!
Mas janelas com tantas bandeiras portuguesas como se viram do menino Jesus por ocasião da visita do Santo Padre, isso não. Não se vêem praticamente nenhumas. Quase nenhumas bandeiras portuguesas desfraldadas por varandas e automóveis, que Scolari não é Queirós e a poesia é bem diferente (como no poema «Desaparecido», do outro Carlos Queirós, poeta, que rezava assim: Sempre que leio nos jornais:/ «De casa de seus pais desapar’ceu...»/ Embora sejam outros os sinais,/ Suponho sempre que sou eu.// Eu, verdadeiramente jovem,/ Que por caminhos meus e naturais,/ Do meu veleiro, que ora os outros movem,/ Pudesse ser o próprio arrais.// Eu, que tentasse errado norte;/ Vencido, embora, por contrário vento,/ Mas desprezasse, consciente e forte,/ O porto do arrependimento.// Eu, que pudesse, enfim, ser eu!/ – Livre o instinto, em vez de coagido./ «De casa de seus pais desapar’ceu...»/ Eu, o feliz desaparecido!).
É verdade, nem bandeiras nem aquelas malfadadas cornetas que lá para os cabos de África têm nome de vuvuzelas. Ou muito poucas, felizmente, que a moda por aqui parece não ter pegado a sério. Que aquelas coisas de plástico, tutti-frutti, para além de cansarem no sopro também cansam nos ouvidos e na paciência. Diz o Cristiano que não gosta lá muito daquilo em campo, e que os seus colegas jogadores também não, que aquele barulho azucrina à brava e desconcentra a táctica, mas que se tem de compreender, que as pessoas gostam e que por isso é preciso respeitar (tá bem, abelha, a lição bem aprendida, é o que é…). Pois, respeite-se então aquele enxame de milhares de abelhas num sobrevoo de noventa minutos, pelos menos não há o risco de ferroadelas, e também para aquilo que habitualmente se ouve em jogo…
Mas se o alarido por enquanto não é muito, já o aparato tem que se lhe diga. Jogadores a sério são jogadores a sério, e se mundiais e «seleccionados» ainda mais, rapaziada de alto gabarito, estrelas do esférico, atletas de primeiríssima apanha que requerem bom remanso e bom trato.
Nada de refugo, nada de atletas de rendimento baixo e de mobilidade reduzida, como aqueles duzentos e cinquenta, de trinta e cinco países, que por aqui estiveram, entre um e nove deste mês, no Campeonato Mundial de Boccia. Sim, que estes não vão a lado nenhum se os não levarem, e isto de serem paralímpicos (e de Portugal ser nesta modalidade campeão do mundo) não quer dizer nada. Competiram em espaços pouco condignos, em condições claramente a condizer, pobres, bem entendido, com escassos apoios e problemas de sobra… «Apesar das boas vontades, nem sempre há sensibilidade para resolver estes problemas. Uma vez por falta de meios financeiros outra porque não se ‘justifica’. Ficam por resolver alguns problemas de acessibilidade, sobretudo nos pavilhões e acessos do Complexo – Estádio Universitário, que esperamos mereçam em futuro próximo a atenção devida», afirma António Batalha, um dos organizadores do campeonato.
Afinal, quase ninguém deu por nada nesta nossa urbe, que desporto e desportistas a sério é outra coisa, não é isto.
Desporto a valer é, como se sabe, futebol de gente viril, apta e capaz de conduzir para cima de 250 cavalos. E por isso aquilo lá para as bandas da Guarda foi o que se viu, assim um estágio tipo-mini-férias, com muito ginásio, spas e mini-spas, muitos autógrafos. Questão de repouso e conforto.
Depois, antes da partida, de Cascais para o aeroporto, batedores e sirenes sempre a abrir. Uma saudação para o Eduardo VII, de costas para o Marquês, e ala que se faz tarde. Uma entrada pela sala VIP e toda a gente dentro do avião, um avião só para ela, pouco mais de meia centena entre jogadores e comitiva, que se quer espaço, muito espaço e, sobretudo, repouso e conforto.
Na África do Sul, ali chegados, um hotel só por conta da selecção portuguesa. Diz-se que o segundo mais caro, que para sofrimento já bastou o nosso quando por lá estivemos e passámos na era de quinhentos. E o campeonato, ainda por cima mundial, exige repouso e conforto (dizem ainda as más-línguas que só os franceses nos bateram em qualidade, e que a própria ministra do Desporto, num acto de incompreensão ou de sovinice, se queixou de tanto desperdício em tempo de magreza – desabafo pouco próprio para uma função ministerial).
Mas que vamos ganhar o campeonato, disso não temos dúvidas, que a boa esperança é nossa desde há séculos. Quer dizer, já ganhámos, só porque lá chegámos e vencemos os tormentos. Quanto ao resto, tanto faz, mais crise menos crise… Haja conforto, conforto e repouso, o necessário para criar anti-heróis e, quem sabe, destruir mitos.
Afinal, há coisas bem piores que também pouco ou nada nos flagelam, como aquela maré negra que invadiu o Golfo do México e anda a importunar as praias do Alabama, do Louisiana e do Mississipi. Coisas das Américas, coisas deles, insignificâncias. Pois que se amanhem agora, que o império é deles e há muito se cumpriu Portugal…
Há crónicas assim.
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Crónica de Junho de 2010 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24.
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sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago (1922-2010)

«No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea…» Assim falou Saramago dos seus tempos de criança. Foi em estocolmo. Ele terá sempre um lugar entre as estrelas. E talvez agora esteja a observar-nos.
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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Leituras para o mundial

No mundial de 2006 houve quem sugerisse livros para a selecção. Romances, um para cada jogador. Eu não fui tão longe, recomendei contos, também um para cada jogador, e de caminho para a equipa técnica e mais umas figuras e figurinhas. Como a situação não mudou muito em quatro anos, volto aos contos (com umas crónicas pelo meio). Aqui vão, pequenos textos para uns minutos de leitura, à noite, antes que chegue o sono.
Eduardo – «O exame imperial», de Xavier Queipo (do livro «Os Ciclos do Bambu»)
Beto – «De como fiz a minha iniciação desportiva, hesitando entre a arte de guarda-redes e a de pedróbolo da quinta do Lopes», de Fernando Assis Pacheco (do livro «Memórias de um Craque») Daniel Fernandes – «O invento ou a salvação do mundo», de António Telmo (do livro «Contos Secretos»)
Miguel – «Que noite, meu velho!», de Dalton Trevisan, (do livro «O Grande Deflorador»)
Fábio Coentrão – «O timbre da tua voz», de Ana Nobre de Gusmão (do livro «Até que a Vida nos Separe»)
Paulo Ferreira – «Um rapaz filósofo», de Isaac Bashevis Singer (do livro «No Tribunal do Meu Pai»)
Ricardo Carvalho – «Honra brava», de Ascêncio de Freitas (do livro «Estória do Homem que Comeu a Sua Morte e Outros Contos»)
Bruno Alves – «Quem é o assassino?», de Istvan Örkény (do livro «Histórias de 1 Minuto»)
Rolando – «A sombra sentada», de Mia Couto (do livro «Cronicando»)
Ricardo Costa – «Fechado até Setembro», de Camilo José Cela (do livro «As Companhias Convenientes e Outros Fingimentos e Cegueiras»)
Duda – «Ser de esquerda porque sim», de Francisco José Viegas (do livro «Liberal à Moda Antiga»)
Pepe – «É chato ser brasileiro!», de Nelson Rodrigues (do livro «À Sombra das Chuteiras Imortais»)
Pedro Mendes – «Ganhar o jogo», de Rubem Fonseca (do livro «Pequenas Criaturas»)
Raul Meireles – «O misterioso bípede», de Bill Bryson (do livro «Breve História de Quase Tudo»)
Tiago – «Visita de cumprimentos», de Guillermo Cabrera Infante (do livro «É Tudo Um Jogo de Espelhos»)
Miguel Veloso – «Os anos confusos da juventude», de Isabel Allende (do livro «O Meu País Inventado»)
Deco – «A minha pátria é a Amazónia Portuguesa», de Luís Graça (do livro «Quinze Desatinónimos para Fernando Pessoa»)
Nani – «Vou dizer às mulheres que vamos sair», de Raymond Carver, (do livro «De que Falamos Quando Falamos de Amor»)
Simão Sabrosa – «O vermelho», de Jack London (do livro «Contos Fantásticos»)
Danny – «Outro amável milagre», de Eça de Queirós (do livro «Contos»)
Cristiano Ronaldo – «Tira lá os olhos das mamas, ó manjerico!», de Charles Bukowski, (do livro «A Sul de Nenhum Norte»)
Liedson – «A alegria de ser estrangeiro», de Enrique Vila-Matas (do livro «Da Cidade Nervosa») Hugo Almeida – «Está bem, abelha», de Clara Pinto Correia (do livro «Histórias Naturais»)
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Já agora, além das sugestões para os 23 jogadores seleccionados, mais algumas, para elementos da equipa técnica, pessoas da federação, outros jogadores, treinadores em destaque, presidentes dos principais clubes e ainda políticos (no caso, os dois com os mais altos cargos do país).
Carlos Queiroz – «Julgamento definitivo», de Mário-Henrique Leiria (do livro «Contos do Gin-Tonic»)
Agostinho Oliveira – «Apenas um subalterno», de Rudyard Kipling (do livro «O Homem que Queria Ser Rei e outros contos»)
Gilberto Madail – «Crónica escrita depois de ter bebido dois copos de vinho tinto ao almoço», de António Lobo Antunes (do «Livro de Crónicas»)
Amândio de Carvalho – «Um senhor muito velho com umas asas muito grandes», de Gabriel García Márquez (do livro «A Incrível e Triste História da Cândida Eréndira e da sua Avó Desalmada»)
Eusébio – «Agora sou eu a falar», de Pedro Paixão (do livro «A Noiva Judia»)
Zé Castro – «Gostava de ter um botão para rebentar com isto», de Joel Neto (do livro «O Citroën que Escrevia Novelas Mexicanas»)
Quim – «O deita-fora», de Heinrich Böll, (do livro «Contos Irónicos»)
Nuno Assis – «As desilusões suportáveis», de Fernando Venâncio (do livro «Último Minuete em Lisboa»)
Carlos Martins – «Repouso», de Miguel Torga (do livro «Novos Contos da Montanha»)
Maniche – «A noite em que o deixaram sozinho», de Juan Rulfo (do livro «A Planície em Chamas»)
Rui Patrício – «Saída em falso», de Gonzalo Torrente Ballester (do livro «Memória de Um Inconformista»)
Ricardo Quaresma – «Você aí nem vai», de António Alçada Baptista (do livro «A Cor dos Dias»)
Makukula – «O nosso país é bué», de Pepetela (do livro «Contos de Morte»)
João Moutinho – «A estória de Metão, o pequeno», de Gonçalo M. Tavares (do livro «Histórias Falsas»)
Bozingwa – «A miragem», de Mário de Carvalho, (do livro «Fabulário»)
Ruben Amorim – «Um sorriso inesperado», de José Riço Direitinho (do livro «Um Sorriso Inesperado»)
José Mourinho – «A vida quotidiana de uma obra de arte», de Wladimir Kaminer (do livro «Russendisko»)
Jorge Jesus – «Discurso sobre o fulgor da língua», de José Eduardo Agualusa (do livro «Catálogo de Sombras»)
Luiz Felipe Scolari – «O dia da besta», de Panos Karnezis (do livro «Pequenas Grandes Infâmias»)
José Eduardo Bettencourt – «A arte de não saber», de Luis Sepúlveda (do livro «O Poder dos Sonhos»)
Luís Filipe Vieira – «O falcão e o pato selvagem», de Leonardo da Vinci (do livro «Fábulas»)
Jorge Nuno Pinto da Costa – «Excertos de uma conversa», de Juan José Millás (do livro «Contos de Adúlteros Desorientados»)
José Sócrates – «Antigamente os vivos não morriam», de Maria Antonieta Preto (do livro «A Ressurreição da Água»)
Cavaco Silva – «O homem que calculava», de Luiz Pacheco (do livro «Exercícios de Estilo»)
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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Apresentação em Monchique

Imagens da apresentação em Monchique de «O Sorriso Enigmático do Javali». No blog do livro, aqui.
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sábado, 5 de junho de 2010

Filhos das estrelas

«Um livro que nos lembra a frase de Sagan 'somos filhos das estrelas', reconciliando-nos com uma natureza cada vez mais distante...» – texto de Ana Cristina Leonardo, hoje no «Expresso», sobre «O Sorriso Enigmático do Javali».
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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Em Monchique

Apresentação na minha terra (Monchique, no Algarve), dia 12 de Junho, pelas 16H30, do livro «O Sorriso Enigmático do Javali». A organização é da Junta de Freguesia de Monchique. O livro será apresentado por Adriana Freire Nogueira, professora da Universidade do Algarve. Local: Longevity Wellness Resort Monchique, nas Caldas de Monchique.
(clicar na imagem para aumentar)
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O fogo

Depois do meu romance com um gigantesco incêndio pelos campos («Uma Noite com o Fogo»), a minha editora, a Quetzal, publica agora um romance com um incêndio na cidade.
(clicar nas imagens
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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Personagens estranhas

A revista «Ler» de Junho, que saiu hoje. Pediram-me algumas escolhas e eu optei por personagens estranhas de romances. Primeira, um português criado por Dan Brown e que se chama, imagine-se, Hulohot. Depois, Roberto Bolaño, o próprio, a fazer de personagem no inesquecível «Soldados de Salamina» (de Javier Cercas). Finalmente, as personagens de um romance de José Rodrigues dos Santos, todas com uma estranha característica: quando falam dizem «uh» (vá-se lá saber por quê).
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