domingo, 28 de fevereiro de 2010

Revista «human» de Março

(clicar na imagem para aumentar)
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Nas bancas a partir desta segunda-feira. É o número 15, de Março de 2010. Mais informações sobre a edição aqui. Deixo a seguir o meu editorial…
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Dois mundos
A capa desta edição é feita com um homem de dois mundos, o da política e o das empresas: Pedro Passos Coelho. É dele que publicamos uma longa entrevista, contudo bem menor do que aquela que gravámos, por causa da habitual ditadura da paginação, que volta não volta nos obriga a cortar alguma coisa que não queríamos. Há meia dúzia de edições aconteceu ainda pior, na altura em que entrevistámos Manuel Carvalho da Silva, o líder da CGTP; ainda me lembro do pesadelo que foi, dessa vez, ter de escolher os cortes para ficar apenas com metade das respostas, para que não saísse das páginas previstas, que até eram muitas. Não deixa de ser curioso, num tempo em que começam a preocupar-nos outras ditaduras, por sinal bem perigosas (e vergonhosas), ter de lidar com esta que nos permite sempre brincar um bocadinho.
No caso do principal entrevistado da presente edição, e dos dois mundos que referi, parece-me bastante saudável a relação que existe entre a política e a «vida real», como o próprio diz a certa altura. Sempre me repugnou o habitual trajecto de via única desde os gabinetes ministeriais até às administrações de grandes empresas, sem que se encontre uma justificação que faça sentido para que tal aconteça.
Já agora, numa reportagem que este mês publicamos, o jurista Carlos Perdigão aborda de certa forma este problema, quando afirma que «é necessário que as operações que envolvem as pessoas nas organizações sejam credíveis», coisa que «na maior parte das nossas empresas está muito longe de suceder». Porque aí, muitas vezes, como assinala, a opção é «pelo manobrismo fácil, pelo clientelismo tentacular ou por um sem número de práticas avulsas que inquinam de forma impiedosa as relações interpessoais e explicam uma boa parte da baixa produtividade.» E «ao lado de processos kafkianos de recrutamento e selecção (provas, entrevistas, testes psicotécnicos, avaliações curriculares detalhadas, mais provas, mais entrevistas, etc, etc) há quem entre com uma simples palmada nas costas sem que lhe seja exigida qualquer credencial», e existem «casos em que, a par de remunerações chorudas para indivíduos de prestações vulgares de Lineu, se arbitram compensações quase simbólicas a quadros de valia e prestação incomparavelmente superiores». Tudo porque «neste domínio ainda existe muito a compensação pelo cargo em detrimento da compensação pelo mérito» além de que «a mediocridade no topo das organizações, para se poder sobreviver, fulmina tudo o que de bom exista em seu redor». Como conclui Carlos Perdigão, «nada que o Dilbert não tenha já explicado de forma incontestável».
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Imagens daqui (6)

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Apenas o Sporting

Sporting 3 (Miguel Veloso, Pedro Mendes, Matias Fernández), Everton 0, segundo jogo dos dezasseis-avos de final da Liga Europa 2009/ 2010
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Um excelente jogo do Sporting, apenas o Sporting, apesar de não jogar há muito tempo (nos últimos jogos tinha jogado uma equipa esquisita, a Sporting sade). Resta agora esperar para ver a equipa que vai aparecer no próximo jogo e se será capaz de regressar ao quarto lugar, o grande objectivo do presidente perdedor mantido a dezenas de milhares de euros por mês. Uma nota para o regresso no ataque da dupla Liedson/ Yannick, e outra para a escolha de Costinha, que me parece que poderá fazer um bom trabalho na gestão do futebol, tão mal tratado ultimamente no Sporting.
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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Em resumo

«Com estes administradores o Estado está desgraçado». A frase foi dita hoje no Parlamento, na Comissão de Ética, pelo deputado João Semedo, quando interpelava o ex-administrador da Portugal Telecom, Rui Pedro Soares. Resume bem tudo aquilo que está na base dos trabalhos daquela comissão.
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Apenas com uma esferográfica

Trabalho de Albino Magalhães, feito apenas com uma esferográfica, aqui.

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Farpa

Ontem, no Parlamento (Comissão de Ética), houve uma altura em que Paulo Penedos fez questão de deixar bem claro que tinha feito a licenciatura em Direito na prestigiada Universidade de Coimbra e depois o estágio na ordem profissional em que agora está inscrito (Ordem dos Advogados). Presumo que estava a falar para José Sócrates. Uma farpa inesperada.

Imagens daqui (5)

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Cada vez mais...

Cada vez mais me vou convencendo de que boa parte da nossa política é feita por bandidos.
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domingo, 21 de fevereiro de 2010

António Souto – Crónica (21)

Entre dois abalos
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Não há escalas de Richter, ou outras, que meçam a dor da alma.
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1 – «Assim Se Esvai a Vida – Três Livros num Só» (Dom Quixote, Janeiro de 2010), de Urbano Tavares Rodrigues.
É um livro diferente de todos os outros do autor, um livro de memórias arroladas em novela, em reflexões diarísticas com poemas à mistura, em breves contos. Um livro que nos abala e nos faz matutar sobre o sentido da vida, da sua efemeridade, da sua discordância, da sua crueza. Um livro que sabiamente faz a síntese entre o narrador e o autor, um ser com a identidade de Urbano Tavares Rodrigues que por ali se espraia, por aquelas linhas, aqueles versos, e se «expõe» como nunca antes se expusera, ele próprio o afirma.
Três livros num só, num só volume, num só ser, num ser só. Um abandono vagamente resignado a uma mobilidade que deixou de ser, um cansaço físico que a lucidez intelectual tende a contrariar. As palavras não mentem nem negam a incomensurável vontade de criar, e Urbano Tavares Rodrigues sabe-o bem e deixa que ela escorra em trechos de um erotismo a um tempo apetecível e atroz, porque a libido ainda se conserva e insiste – «É sabido que a libido, quer se expanda quer se retenha, está na origem da grande criatividade artística.» Mas está só.
Um ser-só. Um ser paradoxalmente desiludido e esperançoso, um ser que crê – quando tudo (ou quase tudo) o faz desacreditar –, que continua crendo sobretudo no Homem, na sua capacidade de mudança, em nome do Homem. E por isso o amor, a fraternidade e a solidariedade atravessam todo o livro, numa espécie de grito em surdina, como quem busca desesperadamente forças para lutar e se sabe já vencido, como quem sonha em visitar o México e se lamenta: «o que já não poderei fazer por motivos de saúde»(*).
Um ser-só. Um ser que se limita praticamente a contemplar uns olhos que ainda lhe dão luz: «Os olhos verdes do meu filho, da cor do mar a certas horas»(*), um ser que se satisfaz com muito pouco, que é muito: «Brincar com o meu filho António Urbano, com os Gormittis, dragões, dinossauros e Bem».(*)
Um ser-só, num só livro que nos abala e nos destroça, porque «assim se esvai a vida»…
(*) in revista «Única», do «Expresso», 13 de Fevereiro de 2010
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2 – Em Port-au-Prince, a terra tremeu. Diz-se que o sismo foi de magnitude 7.0 na escala de Richter. Não sei o que isso significa, não sabemos felizmente no corpo o que isso significa, mas pelas imagens sabemos o que isso significou e significa para muitos milhares de seres sem culpa. Sabemos não, imaginamos, e mal, que uma coisa é sofrer à hora das notícias e outra, para quantos sobreviveram, para todo o sempre. E não há escalas de Richter ou outras que meçam a dor da alma.
Damos voltas à memória de escola e à dos livros, e o que lemos?
«O sismo teve o epicentro no mar, a oeste do estreito de Gibraltar, atingiu o grau 8,6 na escala de Richter e o abalo mais forte durou sete intermináveis minutos. Por ser Sábado, acorreram mais pessoas às preces. As igrejas tinham os devotos mais madrugadores. Só na igreja da Trindade estavam 400 pessoas. Se os abalos tivessem começado mais tarde, teria havido mais vítimas, pois os aristocratas e burgueses iam à missa das 11 horas. Depois dos abalos, começaram as derrocadas. O Tejo recuou e depois as ondas alterosas tudo destruíram a montante do Terreiro do Paço e não só. Era o fim do mundo!
Os incêndios lavraram por grande parte da cidade durante intermináveis dias. Foram dias de terror. As igrejas do Chiado e os conventos ficaram destruídos. A capital do império viu-se em ruínas, já para não falar de outras zonas do país, como o Algarve, muitíssimo atingida pelo sismo e maremotos subsequentes.»
Em 1755, este foi o cenário em Lisboa, mortes, aos milhares, e ruínas. Houve quem não ficasse alheio a esta «vingança» divina, como Voltaire, e acusasse:
«Filósofos iludidos que bradais ‘Tudo está bem’;/ Acorrei, contemplai estas ruínas malfadadas,/ Escombros, despojos, cinzas desgraçadas,/ Estas mulheres e crianças amontoadas/ Estes membros dispersos sob mármores quebrados/ Cem mil desafortunados que a terra devora (...)/ Direis vós, perante tal amontoado de vítimas:/ ‘Deus vingou-se, a morte é o preço dos seus crimes?’/ Que crime, que falta cometeram estas crianças/ Sobre o seio materno esmagadas e sangrando?/ Lisboa, que já não é, teve ela mais vícios/ Que Londres ou Paris, mergulhadas em delícias?/ Lisboa em ruínas, e dança-se em Paris.»
Em Portugal foi assim. Foi assim no Haiti. Hoje, é verdade, fala-se menos em vingança e a solidariedade é mais ampla, mais pronta, mais eficaz. Mas é a mesma a dor da alma – também nos abala e destroça, porque também «assim se esvai a vida»…
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Crónica de Fevereiro de 2010 de António Souto para o blog «Floresta do Sul»; crónicas anteriores: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20.
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Dois jogos, vergonha e meia

Everton 2, Sporting 1 (Miguel Veloso), primeiro jogo dos dezasseis-avos de final da Liga Europa 2009/ 2010
Olhanense 0, Sporting 0, vigésima jornada do Campeonato Nacional 2009/ 2010
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Só agora coloco alguma coisa aqui sobre os dois últimos jogos do Sporting, em Liverpool (ou «em Everton», como dizem os comentadores desportivos, que também dizem «em Rio Ave» em vez de «em Vila do Conde») e em Olhão. No jogo europeu, mesmo com uma derrota que esteve para ser comprometedora, até nem se pode dizer que exibição tenha sido uma completa vergonha, talvez apenas meia vergonha. Já em Olhão foi uma vergonha completa, com o Olhanense a não ganhar o jogo nas calmas apenas por uma nítida falta de jeito a rematar. Nota-se que Carvalhal não sabe o que fazer e que deve estar arrependidíssimo de ter entrado no mundo ao contrário em que José Eduardo Bettencourt transformou o Sporting. Tenho dúvidas sobre se o clube conseguirá recuperar depois de se ver livre do mais incompetente presidente da sua história recente – e quanto mais tempo passar com Bettencourt na sua presidência dourada de dezenas de milhares de euros por mês mais essas dúvidas certamente se avolumarão.
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Uma das melhores crónicas

Coloco aqui porque está disponível na Internet. Uma das melhores crónicas escritas nos últimos anos em Portugal. De Mário Crespo.
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O palhaço
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.
O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico, seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.
Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.
O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir, violar e roubar.
E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.
Ou nós, ou o palhaço.

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Imagens daqui (4)


O verdadeiro Sporting de Bettencourt

Paços de Ferreira 0, Sporting 0, décima nona jornada do Campeonato Nacional 2009/ 2010
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O Sporting de Paços de Ferreira, na passada sexta-feira, foi o verdadeiro Sporting de José Eduardo Bettencourt, o Sporting sade na sua plenitude. Tão longe dos tempos de glória do clube, não foi uma equipa ganhadora, como aliás diz o seu líder (?), que mesmo sendo uma pessoa de cabelos brancos mostra de cada vez que abre a boca uma inexperiência que (se pensarmos nas responsabilidades que tem, ou que devia ter) se pode facilmente classificar como atroz. De qualquer maneira, mesmo não sendo uma equipa ganhadora, o Sporting de Bettencourt conseguiu não perder, coisa que na mentalidade trazida pelo homem dos cabelos brancos na volta já não será mau (e nem só na mentalidade desse, basta lembrar outro infeliz dirigente – ? –, para quem perder em casa por cinco a dois com o Barcelona foi «razoável»). Mais do que presidente do Sporting, José Eduardo Bettencourt é a grande praga do Sporting.
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Um ditado para o futuro

«Anda um estado a manter uma golden share para isto.»
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Já se sabia...

Já se sabia que este génio do dirigismo desportivo nos ia levar a isto.

Nota: não perder esta carta bem interessante.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma humilhação e meia

Sporting 1 (João Moutinho), Académica 2, décima oitava jornada do Campeonato Nacional 2009/ 2010
Sporting 1 (Liedson), Benfica 4, meias finais da Taça da Liga 2009/ 2010
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Se do jogo no Porto escrevi que foi uma humilhação, os dois jogos que se seguiram representaram uma humilhação e meia (uma ontem à noite com o Benfica, meia no sábado com a Académica). Não vale a pena falar dos frangos de Rui Patrício, das loucuras de João Pereira, da falta de aplicação de tantos jogadores, de quase já só se ver classe e profissionalismo em Liedson, da pouca sorte de Carvalhal (que agora é que parece que começa a descobrir no que se meteu). O problema do Sporting é mais profundo e tem a ver com um conjunto de dirigentes que parece que teimam mesmo em afundar o clube (ao menos que afundassem, e para bem fundo, a sade). Dirigentes entre os quais surge bem destacado José Eduardo Bettencourt, o desinteressado do Sporting, desinteressado mas com dezenas de milhares de euros a caírem-lhe mensalmente na conta (se não ganhasse tanto talvez nestes tempos tristes para o clube não tivesse tido a infeliz contudo original ideia de ir de férias para o Brasil – chamem-lhe parvo!…). O que concluo da desgraça que se abateu sobre o meu clube é que ao pé de José Eduardo Bettencourt quase que Jorge Gonçalves merecia uma estátua em Alvalade.
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domingo, 7 de fevereiro de 2010

O dia de hoje, em 1968

Ver aqui.
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Transportado numa limusina negra, pelo meio do trânsito desordenado de Lisboa, foi mandado parar pelo sinaleiro no Cais do Sodré. Ao lado do condutor ia um detestável figurão chamado Fernando Eduardo da Silva Pais, o director da PIDE, a polícia política do regime. Assim que o viu, o sinaleiro pareceu ficar sem voz.
– Avance! Avance! – terá ordenado Silva Pais.
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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Português técnico

«Tu chamas-te Jorge…»
José Sócrates, num debate com jovens, dirigindo-se a José Luís Peixoto
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A humilhação no Porto

Porto 5, Sporting 2 (Izmailov, Liedson), quartos de final da Taça de Portugal 2009/ 2010
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Com José Eduardo Bettencourt desaparecido mais o seu indecente salário, o Sporting deixou escrita no Porto, na terça à noite, mais uma página negra para a sua história. Ernesto Ferreira da Silva, o tal que considerou a derrota precisamente por cinco a dois em casa com o Barcelona como um resultado «razoável», talvez tenha visto esta nova pouca-vergonha também como algo «razoável», não sei. Já a mim não me pareceu nada razoável. Este estranho raide (que dá a ideia de não ter fim) de José Eduardo Bettencourt por Alvalade pode vir a comprometer o Sporting enquanto grande clube de Portugal. Seria preciso vasculhar muito na história do Sporting para se encontrar tanta falta de jeito no planeamento, na gestão e na construção de uma equipa de futebol. Uma incompetência atroz, um aflitivo desleixo e um desinteresse incompreensível é o que se vê quando se olha para a gestão do futebol do Sporting. A equipa que protagonizou a pouca-vergonha contra o Porto foi o reflexo disso, apenas com Liedson (como seria de esperar) a salvar-se no meio do desastre. Mas não culpo os jogadores, nem Carlos Carvalhal (que ao longo do jogo parecia nem querer acreditar no que lhe estava a acontecer e no que lhe está a acontecer num clube que infelizmente tem um presidente que não está à altura do cargo para que foi eleito). Pensar nos seis milhões e meio de euros gastos com Pongolle e vê-lo entrar e fazer o que faria qualquer jogador da equipa de iniciados, ou nem isso, provoca calafrios. Iguais ao que provoca ver o talento de Silvestre Varela, que o Sporting poderia ter sem gastar um cêntimo e que preferiu deitar fora como se de lixo se tratasse. E iguais aos que provoca ver a classe de Ruben Micael, que custou ao Porto o equivalente a meio Pongolle mas cujo valor é infinitamente maior. Mas os piores calafrios, tenho de confessar, é saber que José Eduardo Bettencourt vai continuar no clube, e que na volta até poderá ser reeleito, sei lá, com noventa e tal por cento dos votos. Há mistérios que nem vale a pena tentar explicar. Este é um deles.
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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Imagens daqui (1)

Mais uma vez, o sportinguismo feliz das derrotas

Braga 1, Sporting 0, décima sétima jornada do campeonato 2009/ 2010
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Qualquer dia torna-se um hábito. Depois de uma derrota (como há uns tempos em Berlim), o que mais se ouve é declarações de satisfação, pela postura, pela exibição e por mais uma série de coisas que pouco interessam depois de uma derrota. O treinador disse que poderíamos ter ganho, alguns jogadores o mesmo, mas a verdade é que a equipa já está a quinze pontos do primeiro lugar. É aquilo a que chamo o sportinguismo feliz das derrotas, algo que não consigo perceber.
Uma época tão deplorável, contudo, não é surpresa, principalmente tendo em conta a incompetência, o desleixo e o desmazelo do presidente, um peso assustadoramente pesado para o Sporting e de que dificilmente o clube se conseguirá livrar nos próximos tempos (pode dizer-se que é uma espécie de Caicedo do mundo da gestão desportiva). Neste jogo custou-me sobretudo pensar nos milhões de euros pagos por Sinama-Pongolle, que entrou para nada fazer. E depois do jogo, no dia seguinte, ainda tive de ver dois golos pelo Benfica de Carlos Martins (colocado fora do Sporting sem mais nem menos), outros dois pelo Porto de Silvestre Varela (que no Sporting decidiram deitar fora num momento de desvario) e uma grande exibição, já esperada, de Ruben Micael (que custou ao Porto bem menos do que aquilo que o francês de nome estranho custou ao Sporting).
José Eduardo Bettencourt é a pior desgraça que aconteceu ao Sporting nas últimas décadas, com a agravante de o clube ainda por cima ter de pagar por ela.
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