terça-feira, 14 de julho de 2009

Há mais de dois anos

Foi há mais de dois anos. Publiquei neste blog um post intitulado «Alarve», a propósito da campanha insultuosa que o infeliz Manuel Pinho arranjou para a minha terra, a que mandou chamar «Allgarve», acrescentado uma letra ao nome da região. Na altura recomendei o nome da região para o próprio Pinho no estrangeiro, só que em vez de acrescentos retirava-se uma letra, o g, para ficar «Alarve»; talvez assim fosse possível exportá-lo. Daí para cá, ele teimou em fazer figuras tristes, sendo a mais recente a de colocar dois dos seus dedos na própria cabeça, simulando que tinha um par de cornos. Pouco depois desse gesto animalesco, recebi o texto que publico a seguir, do meu amigo José Vilhena Mesquita, professor da Universidade do Algarve. Foi escrito na altura em que surgiu o insulto do «Allgarve».
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Allgarve, um caso de dislexia política
Por José Carlos Vilhena Mesquita
Nos últimos anos temos vindo, infelizmente, a assistir a diversos indícios de dislexia intelectual e de idiotice política por parte de altas figuras da governação nacional. Os políticos, essa iluminada fauna da sandice nacional, desconfio que têm sido recrutados nas listas de espera dos nossos hospícios mentais. Porém, o mais grave é que, sem qualquer pejo ou o mais ténue constrangimento, têm-se apoderado das cadeiras do poder político-administrativo.
Não há politicastro, por mais imbecil ou menos cretino que seja, que não tenha já sido nomeado director-geral, assessor, chefe de gabinete, secretário de Estado ou até mesmo ministro duma pasta qualquer. Desde que tenha o cartão do partido, qualquer um serve. E quanto mais néscio e mais obtuso, tanto melhor.
Lamentavelmente é assim que parece funcionar a lógica do recrutamento partidário para a formulação dos grandes poderes de decisão nacional. Tudo indica que para ser político não interessa possuir grandes dotes de inteligência e de erudição, de habilitações académicas ou de competência profissional, de idoneidade cívica ou de honradez moral. A coisa funciona precisamente ao contrário. O que verdadeiramente interessa é que não tenha opinião discordante, sobretudo que apoie a inépcia e corrobore da improficiência do seu chefe político.
Perante isto não admira que a iliteracia intelectual e a dislexia mental dos nossos políticos tenham enriquecido abundantemente o hilariante anedotário nacional. Quem não se lembra dos concertos para violino de Chopin, de que Santana Lopes tanto gostava, ou das contas do PIB que engasgaram António Guterres; ou de Freitas do Amaral a criticar a liberdade dos povos europeus por publicarem caricaturas de Maomé; ou das inúmeras gafes de Mário Soares, a quem já nem se liga, e de que já ninguém se lembra, porque a sua boa disposição e o seu sentido de humor tudo faziam esquecer em benefício de umas boas e sonoras gargalhadas.
Todavia, há um ministro que insiste em fazer alarde da sua confrangedora inépcia mental através de monumentais gafes políticas. Refiro-me ao ministro da Economia e da Inovação (esta da «Inovação» é de cabo de esquadra), Manuel Pinho, que chegou ao governo com aquele sorriso de felicidade muito peculiar nas pessoas que na televisão ganham o concurso do «preço certo». Dizem que é pessoa culta, mas que não gosta nada de Almeida Garrett. Mas isso é outra conversa.
As suas gafes políticas são verdadeiras pérolas da laracha popular. Diz-se que está em acesa compita com vários outros ministros para ser laureado com a medalha de cortiça do «Grande Prémio Nacional do Ridículo». Para atingir esse galardão, a votação entre os principais competidores no colégio governativo ficou recentemente muito mais equilibrada, por causa da visita de Sócrates à China. Na comitiva oficial o ministro Pinho tentou convencer os empresários do capitalismo comunista a investirem em Portugal, assegurando-lhes que a nossa competitividade no seio da Europa resulta dos baixos salários que auferem os nossos trabalhadores. Os privilegiados da nomenclatura chinesa ficaram muito impressionados com as palavras do ministro. Porém sentiram-se desiludidos, talvez porque investir em Portugal pareceu-lhes o mesmo que reinvestir na China, onde o povo é pobre por causa dos baixos salários, e, tal como os portugueses, também é triste por causa da política vigente.
Mas o que os chineses não sabiam é que, poucos dias antes, o ministro Pinho havia escoiceado os sindicatos portugueses, acusando-os de instigarem a falta de competitividade do país no seio da Europa por causa dos altos salários que os nossos trabalhadores auferiam. Isto é, o ministro muda de opinião conforme as circunstâncias e as conveniências. Creio que como político e como pessoa está claramente definido...
Depois de asnear a torto e a direito, só falta saber quem foi a azémola que meteu na cabeça do ministro a ideia de criar a marca «Allgarve», alterando de forma abusiva a honrada designação de um território, e de um ancestral reino, muito mais antigo do que o próprio espaço nacional. Parece que o ministro foi na conversa dum criativo de marketing a soldo duma empresa inglesa. Mas o que o homem fez foi espetar dois ll na cabeça do ministro, convencendo-o de que assim ficava mais bonito, porque convinha que o Algarve fosse literalmente todo inglês («all» significa tudo).
A apresentação deste aborto publicitário, ou mais propriamente deste ultraje ao povo algarvio, fez-se com pompa e circunstância, e só não deu grande celeuma porque o ministro prometeu gastar vários milhões de euros na campanha de promoção do «Allgarve». Os empresários dos mais diversos quadrantes esfregaram as mãos de contentes, os apaniguados da política vigente escaldaram as mãos com frenéticos aplausos, enquanto outros escondiam as mãos em concha por detrás das costas, à espera do deles, como fazia o Abreu… Por isso é que a celeuma morreu à nascença, já que os acostumados oportunistas esperam encher os bolsos com mais esta cretinice dos nossos políticos. Tem sido sempre assim. É por isso que estamos na cauda da Europa.
Dizem que a próxima pérola do ministro é estender a graçola à designação do próprio país, que passará a escrever-se «Portugall», para agradar aos ingleses e aos americanos, que assim ficam cada vez mais com a certeza de que somos uma nação subserviente, um país de chapados imbecis.
Resta-me sugerir ao ministro que dê também o exemplo e passe a grafar o seu nome à espanhola, Piño, pois que grande parte da nossa economia já está nas mãos de nuestros hermanos.
Perante o despautério governativo e as constantes calinadas políticas, creio que já todos adivinharam que o «Grande Prémio Nacional do Ridículo» vai para... el ministro Piño.

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4 comentários:

Manuel Ramalhete disse...

António:

Este é um pequeno exemplo da estatura política e intelectual dos homens que nos governam. Mas isto está longe de ser um exclusivo deste governo. É uma epidemia que grassa desde há trinta anos. Houve ali uma fase, após a ditadura, em que existiu esperança. Depois, veio o plano inclinado que nos trouxe de volta a esta apagada e vil tristeza.
Não sabia que ele não gostava de
Almeida Garrett. Mas essa é, para mim, uma excelete notícia. Se ele gostasse é que eu ficava baralhado!

Um abraço.

amv disse...

Manuel, a referência a Garrett tem a ver com isto
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1243908&idCanal=

Manuel Ramalhete disse...

António:

Lembro-me de ter lido uma notícia sobre isto, na altura, mas penso que essa notícia não mencionava o nome de Manuel Pinho. Se mencionasse lembrar-me-ia.

Coitado do Almeida Garrett. Se fosse vivo exilar-se-ia outra vez.
Na altura, por causa dos absolutistas, sendo ele liberal. Agora por causa dos liberais! Como o sentido desta palavra mudou em 186 anos.

Um abraço.

José Carlos Vilhena Mesquita disse...

A questão do Almeida Garrett é de lesa património, mas enfim, o Manuel Ramalhete tem toda a razão, estes liberais de agora nada têem que ver com os de antanho, que eram homens íntegros e com o prurido da Honra (que hoje querem traduzir por Ética, mas que é muito diferente um conceito do outro) à flor da pele.
Um abraço para o António Venda e para todos os amigos deste Blog.