segunda-feira, 18 de maio de 2009

A feira (1)

Foto: Berta Silva Lopes
No penúltimo dia, Sábado, lá fui à feira do livro, a de Lisboa. Estava marcada para as três da tarde uma sessão de autógrafos. Nestas coisas eu costumo pensar sempre se aparecerá alguém, se me conseguirei safar de passar uma vergonha mesmo à frente dos editores. Desta vez nem deu para pensar nisso. Às nove da manhã estava a sair de Lisboa depois de mais uma noite em branco para o fecho da próxima edição da revista. Pensei em não ir a casa e ficar no carro a dormir umas horas, mas logo abandonei a ideia ao perceber num dos espelhos do carro o estado em que estava. Lá conduzi para Montemor, pela estrada nacional, porque pela auto-estrada o mais provável seria deixar-me dormir ao volante. Tive de parar em Vendas Novas para fechar os olhos e encostar a cabeça durante cinco minutos, e à entrada de Montemor a mesma coisa. Depois lá fiz o resto do percurso até casa, pelo meio do montado. Dos javalis, nem sinal àquela hora; só das águias, dos coelhos e dos gatos-bravos. Eram dez e meia quando fui dormir, depois de ter posto o despertador para o meio-dia. Claro que depois não o ouvi tocar e só um acaso fez com que me acordassem por volta da uma. Entre fazer a barba, tomar banho e tentar convencer-me de que as olheiras eram apenas impressão minha, consegui sair de casa pouco depois da uma e meia. Pus-me a caminho de Lisboa, desta vez pela auto-estrada, carregando no acelerador e contando os minutos. Às três e cinco lá estava na feira, no stand da editora. Em jejum. Aceitei um café e recusei uma caipirinha, coisa que naquela zona estavam a oferecer a quem comprasse mais de vinte euros em livros ou, presumo, a quem chegasse para as sessões de autógrafos (porque eu não tinha comprado nada). Mesmo de banho tomado e com a barba feita, não me safei de a primeira pessoa conhecida que apareceu me dizer que o meu ar cansado lhe fazia lembrar vagamente o Lobo Antunes. Assustei-me, mas depois decidi fingir para comigo que se tratava de um elogio.
.

2 comentários:

A. Souto disse...

Nada de sustos, que se a referência em vez de ser ao Lobo Antunes fosse à caipirinha, mesmo assim continuaria sendo um elogio (duplo)!

Lu�s Gra�a disse...

O importante � que a malta esteve l�. Grande dia! Que continuou depois maravilhosamente na P� dos Livros, com o meu grande amigo Ild�sio Tavares. Magn�fico o seu "Flores do Caos". Que privil�gio ter podido declamar os sonetos do livro, a convite do vate.

Que sorte ter reecontrado o Ant�nio Jos� Queir�s, que havia conhecido em Amarante, em 1987, nos "Encontros da Primavera". Que sorte ter conhecido o Jo�o Pinto, da Labirinto.

Pelo meio, um abra�o estreito ao Ant�nio Souto, na Feira do Livro, enquanto me perdia e me encontrava com os outros escritores.

Que belo dia! Que belo dia!