sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Os Dias do Blog – 3

Terceira crónica sobre blogs da série que fiz mensalmente entre finais de 2003 e meados de 2007. Esta é a crónica de Fevereiro de 2004. Início aqui.

Os livros, «coisa pública»
(Fevereiro de 2004)
À volta dos livros, ou em volta, como também há quem apregoe. Retalhos do mundo dos blogs sobre a literatura de cá, e não só. Para começar, Pedro Mexia, no «Dicionário do Diabo», ainda em 2003, precisamente no último dia do ano. «O melhor livro português que li este ano foi ‘Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina’ (Caminho), de Mário de Carvalho, por razões que explicarei esta semana noutro lado [e explicou, até em mais do que uma ocasião]. Sugiro também Manuel António Pina, ‘Os Livros’ (Assírio e Alvim), que finalmente começa a ser reconhecido por cada vez mais gente como um dos nossos grandes poetas, conversado e pensativo, irónico e quase terrível. E, nas traduções de autores vivos, sem dúvida a versão portuguesa de ‘Like Life’, da fantástica Lorrie Moore, publicado entre nós pela Relógio d’Água. Há uma tradição do conto na América que explica aconteceram autores assim, de um realismo desencantado e acerado, tão bom como em Carver ou Richard Ford. Finalmente, no ensaio, ‘Impasses’, de Fernando Gil e Paulo Tunhas, porque é bom tomar contacto com opiniões diferentes nos temas de consenso forçado.»
Também a 31 de Dezembro, Francisco José Viegas começava no seu «Aviz» uma escolha de doze títulos (que acabaria em menos de nada, logo a 1 de Janeiro). A abrir, um aviso… «Livros do Ano. Durante os próximos dias, aparecerão pequenos textos com este título. O resto não me apetece comemorar. Nem os blogs. Os livros, muitas vezes, são a única coisa ‘pública’ que fica (o resto, ou é uma grande alegria no coração, que não se pode partilhar em balanço nenhum, ou não merece ser distinguido). Por mim, para já, escolherei os livros.» Boa escolha. Os livros, então (com excertos dos comentários). «Mário de Carvalho, ‘Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina’ (Caminho). O ano estava a terminar sem um livro que se risse muito de nós próprios. Mário de Carvalho escolheu a ironia, o riso, a gargalhada, a comédia. E fez bem, fez-nos bem./ Richard Zimler, ‘Meia-Noite ou o Princípio do Mundo’ (Gótica). Dois tipos de extermínio: o dos negros e o dos judeus, num romance escrito à maneira clássica./ Daniel Faria, ‘Poesia’ (Quasi). Lê-lo [Daniel Faria] é rir do ‘sistema literário’ que não vê dois palmos à frente das suas prateleiras e cumplicidades./ Harold Bloom, ‘Génio’ (Objetiva, Brasil). O que me intriga é saber que Bloom assusta tanta gente, sobretudo ignorantes e modernos./ Antonio Muñoz Molina, ‘Sefarad’ (Editorial Notícias). A editora portuguesa alterou o subtítulo (‘Entre o Nazismo e o Comunismo, Um Romance sobre o Exílio.’) para o amenizar na capa (‘Entre o Nazismo e o Estalinismo’), num exercício de marketing político para salvar o mercado ideológico./ José Bento, ‘Alguns Motetos’ (Assírio & Alvim). José Tolentino Mendonça diz que a poesia de José Bento segue uma ‘condição quase clandestina’./ Patrícia Melo, ‘Valsa Negra’ (Companhia das Letras, Brasil). Não se sabe como se sai vivo da sua leitura./ Manuel António Pina, ‘Os Papéis de K.’ (Assírio & Alvim). Devolve, em prosa, algum desse ‘mistério’ que tem vivido nos versos de Manuel António Pina./ Maria Filomena Molder, ‘A Imperfeição da Filosofia’ (Relógio d'Água). Para quem passa pela blogosfera e se irrita com a leviandade com que são apresentados tantos juízos definitivos./ Manuel António Pina, ‘Os Livros’ (Assírio & Alvim). Um livro sereníssimo, vindo do fundo das bibliotecas, pausado como os grandes capítulos das vidas todas./ Fernando Gil, Paulo Tunhas (& Danièle Cohn), ‘Impasses’ (Europa-América). Um livro contra a má-fé, que é cada vez mais um instrumento acessível e popular./ Vasco Graça Moura/ Petrarca, ‘Rimas’ (Bertrand). Durante muito tempo teremos de agradecer a VGM o seu trabalho como tradutor.»
Em relação a esta última escolha, pergunta-se em «O Blog do Alex»... «Afinal de contas, quem escreveu as Rimas?». Isto a 15 de Janeiro. A 17, resposta no «Aviz». «O 'Blog do Alex' acha que as ‘“Rimas’, de Petrarca, são só de Petrarca e não de Petrarca e de Vasco Graça Moura, conforme aparece na capa do livro, e assim mencionado na pequena selecção de ‘livros do ano’ do ‘Avis’. A questão da tradução & autoria fica para depois, mas o Alex deixou passar o pior, já agora: o livro aparece na categoria ‘ficção’, por puro engano.»
Mais livros… Uma sugestão de José Mário Silva no «Blog de Esquerda», em pleno dia 25 de Dezembro. «Ofereçam às pessoas de que mais gostam (pais, irmãos, namoradas, amigos) o melhor livro de Literatura – com L maiúsculo – publicado este ano em Portugal: ‘A Planície em Chamas’, genial conjunto de dezassete contos do escritor mexicano Juan Rulfo (o autor dessa outra obra-prima que é ‘Pedro Páramo’), traduzido por Ana Santos e editado pela Cavalo de Ferro.» E, já agora, para (des)compor as coisas, o «Bloguítica», a 14 de Janeiro… «Pedro Santana Lopes presidiu ontem ao lançamento, no Grémio Literário, do seu livro ‘Causas de Cultura’. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa garantiu que o lançamento desta obra, nesta altura, era apenas ‘um exercício de memórias’, rejeitando que este seria o pontapé de saída para a sua candidatura às presidenciais de 2006. O Bloguítica está em condições de confirmar a veracidade desta tese. Segundo as fontes consultadas, o pontapé de saída para a sua candidatura às presidenciais de 2006 ocorrerá com o lançamento do livro ‘Causas de Futebol’, ou posteriormente, com o lançamento de um outro livro intitulado, muito simplesmente, ‘Kausas’. O número de admiradoras de Pedro Santana Lopes presentes à porta do Grémio Literário rondava os seis a oito milhares, razão pela qual o stock do livro esgotou e está já agendada uma segunda edição.»
Para acabar, devo referir que o professor Marcelo Rebelo de Sousa, não num blog mas na revista «Os Meus Livros», dedicou um bocadinho da sua coluna a um romance que publiquei em 2003. Título, autor e editora, com duas vírgulas pelo meio. Enfim, só elogios.

Blogs consultados
http://dicionariodiabo.blogspot.com/, mantido por Pedro Mexia;
http://aviz.blogspot.com/, mantido por Francisco José Viegas;
http://oblogdoalex.blogspot.com/, com textos assinados por Alex.
http://www.blogdeesquerda/, mantido por José Mário Silva e Manuel Deniz Silva;
http://dicionariodiabo.blogspot.com/, mantido por Paulo Gorjão.
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