domingo, 15 de junho de 2008

Um excerto de «O Bilhete do Senhor Scolari»

Um excerto do meu livro de crónicas «O Bilhete do Senhor Scolari».

(…)
Era preciso pensar nalguma coisa que pudesse resolver o problema. Foi então que reparei no que estava escrito no envelope de cima: «Senhor Luiz Felipe Scolari». Bilhetes… Aquilo era uma pilha de bilhetes de convidados para o jogo, só podia ser. De imediato me chegou uma nova ideia, tipo aquela de perguntar à mastodonta do «ciao» se não tinham em Lisboa ninguém que falasse português; lembrei-me de pegar no envelope do senhor Scolari e em mais uns quantos e ir-me embora sem dizer nada. Durou uns segundos a ideia, ou melhor, a tentação; acabou por perder-se quando pensei no grande sarilho que se calhar iria arranjar, não sei se à Federação Portuguesa de Futebol se à UEFA, assim que o seleccionador de Portugal chegasse e descobrisse que não tinha bilhete. Eu estava longe de imaginar que dois anos depois o senhor Scolari, ainda a fazer de seleccionador cá por estas bandas, iria agredir um jogador sérvio com um murro mal calculado no final de um jogo desastroso, mas a verdade é que já na altura não me fiava muito na sua capacidade de contenção.
Ou seja, continuei sem bilhetes. E como não aparecia mais ninguém da UEFA com jeito de resolver o assunto, e além disso a mastodonta continuava lá com os papéis dela, resolvi ir tentar a sorte noutras zonas do hotel. Daí a pouco, nem cinco minutos, enquanto andava nas minhas deambulações, dei com uma cara conhecida; não era minha conhecida, era conhecida de muita gente, ou de quase toda a gente. Enfim, uma figura pública – um homem, todo despachado, de fato e gravata, assim a descair para o executivo mas sem telemóvel à vista. Veio logo falar comigo, e eu nem tive tempo de estranhar tal atitude; quando dei por ele já estava a ensaiar um sorriso, a pedir-me desculpa e a perguntar-me se sabia onde se levantava os bilhetes. Eu disse-lhe que tinha comprado dois e que andava à procura deles. O homem contrapôs: «Não, eu venho é buscar bilhetes dos dos convidados!» Compreendi logo e por isso indiquei-lhe como chegar até à pilha onde estava o envelope com o nome do seleccionador nacional de futebol em cima, no secretariado da federação. E acrescentei: «Aí deve-se desenrascar!»
(…)

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1 comentário:

Anónimo disse...

Você escreveu um livro sobre o Scolari?