quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Eça Lisboa

Um excerto de um texto de Francisco Almeida Leite no «Corta-fitas» (sobre o novo número dois da Câmara de Lisboa)… «António Costa escolheu para vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa o simpático Marcos Perestrello. Escolhido para super-vereador (durante a campanha foi anunciado que teria a pasta do Ambiente, só que esta acabou por ser negociada com Sá Fernandes) este licenciado em Direito nunca exerceu advocacia por ter andado sempre nos gabinetes ministeriais de Guterres, tendo depois passado para o Parlamento, onde não se lhe conhece uma intervenção digna de registo, sob o consulado de Sócrates. Para além de ser o primeiro ‘costista’, o secretário-nacional do PS para a organização, vulgo o aparelho, dá um salto de gigante dos gabinetes e da última fila na Assembleia da República, onde repetidamente se sentava, para a ribalta política como número dois da maior câmara do país. Como disse, e repito, acho que Marcos Perestrello é simpatiquíssimo. É fino no trato, bem-educado, coisa rara entre os políticos da praça de hoje em dia, e repetem-me à exaustão que é inteligente e um valor socialista a acompanhar. Tem só 36 anos; também não acho que a idade possa ser apontada como factor de risco nesta indigitação.»
Pouco ou nada sei sobre o novo vice-presidente da câmara, mas a descrição de Francisco Almeida Leite faz-me lembrar um tal Pacheco, criado por Eça há mais de cem anos. Ora vejam… «Pacheco não deu ao seu país nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre unicamente porque tinha um imenso talento (...). O talento imenso de Pacheco ficou sempre calado, recolhido, nas profundidades de Pacheco! Constantemente ele atravessou a vida sobre eminências sociais: deputado, director-geral, ministro, governador de bancos, conselheiro de Estado, par, presidente do Conselho - Pacheco tudo foi, tudo teve, neste país que, de longe e a seus pés, o contemplava, assombrado com o seu imenso talento (...). A testa de Pacheco oferecia uma superfície larga e lustrosa. E muitas vezes, junto dele, conselheiros e directores-gerais balbuciavam maravilhados: - Nem é preciso mais! Basta ver aquela testa!»
Há, é claro, aquilo do «simpático», do «simpatiquíssimo» e mais o resto de que fala Francisco Almeida Leite. Eça não parece pintar o Pacheco da mesma forma. Por exemplo, aqui, numa resposta a um deputado da oposição, depois de este o ter criticado como Ministro do Reino… «Ao ilustre deputado que me censura só tenho a dizer que, enquanto S. Exa., aí nessas bancadas, faz berreiro, eu aqui nesta cadeira, faço luz!»
Já agora, Eça escrevia que «Pacheco e Portugal, de resto, necessitam insubstituivelmente um do outro». E justificava... «Sem Portugal Pacheco não teria sido o que foi entre os homens; mas sem Pacheco Portugal não seria o que é entre as nações!» E Lisboa, como ficará entre as cidades agora vice-presidida (ou sub-presidida, nem sei como se deve dizer) pelo «simpático» e «fino no trato» Perestrello.

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