sábado, 30 de junho de 2007

Há quem pense que a não falar é que a gente se entende

Aconteceu ontem à noite na sessão da Assembleia Municipal da minha terra – Monchique. Uma pessoa do concelho que estava a assistir quis intervir e como de costume o presidente não lho permitiu. Essa pessoa acabou por ir-se embora e conta tudo no seu blog.
Eu sou membro da Assembleia Municipal de Monchique. Ontem tinha decidido não falar, mas fui obrigado a fazê-lo depois daquela vergonha. E a situação a seguir foi discutida, embora não me pareça que no futuro as coisas possam mudar. Tem sido uma constante na Assembleia Municipal de Monchique, e com situações semelhantes vi-me também confrontado nas reuniões do executivo municipal, no meu tempo de vereador – aí era o presidente da câmara a impedir as intervenções.
Já perdi a conta às vezes em que intervim na Assembleia Municipal sobre a situação de os munícipes não conseguirem falar durante o período a que têm direito. Não sei quantas vezes já disse, e escrevi, que me espanta que tanto tempo depois do 25 de Abril haja pessoas que tenham uma convivência tão difícil com o ambiente democrático. Mas ontem eu próprio tive dificuldade em falar… Por incrível que pareça, depois de ter impedido o munícipe de falar – pareceu-me que esperava uma intervenção crítica em relação ao poder socialista no concelho –, o presidente da Assembleia Municipal queria impedir-me, também a mim, de falar. Razão: eu como membro da Assembleia Municipal já não podia intervir porque tinha acabado o período da ordem do dia e tinha começado aquele destinado à intervenção do público. Confusos? Também eu. Bom, depois um dos elementos que na mesa acompanham o presidente negou que eu tivesse levantado o braço para pedir a palavra na altura em que o munícipe tinha sido impedido de falar. Mas vários membros da assembleia confirmaram que eu tinha mesmo levantado o braço. Lá falei, por entre não sei quantas interrupções, e lá disse as coisas do costume, de as pessoas terem direito à sua opinião, do ambiente democrático e por aí fora.
Só que para o final da sessão estava reservado o melhor… O elemento da mesa que tinha tentado influenciar o presidente da Assembleia Municipal para que não me deixasse falar – enganando-o –, assim de repente, resolveu entrar na onda que agora parece inundar o país. Contou ao presidente que o tal munícipe na altura de abandonar a sala lhe tinha chamado «presidente asqueroso». Eu não tinha dado por nada, mas a confusão tinha sido tanta que não posso dizer se tinha chamado ou não. Pareceu-me que entre os outros membros da Assembleia Municipal também não se sabia ao certo se aquilo tinha sido dito ou não. Mas o elemento da mesa tinha ouvido, e por isso tinha de se ter atenção à gravação (as sessões são gravadas), para não escapar do texto da acta. «Em que estaria a pensar o autor daquela queixinha tão surpreendente?» Foi a pergunta que me ocorreu. E outra, logo a seguir… «Consideraria a possibilidade de, se a gravação fizesse prova de algum insulto, o munícipe ser demitido de munícipe, ou levar um processo disciplinar enquanto munícipe, nem que fosse preciso arranjar à pressa uma directora regional de qualquer coisa para assinar a documentação?» Antes de 1974, esta queixinha talvez merecesse uma medalha de mérito, ou na volta uma grã-cruz.

Nota – Numa das discussões que referi sobre o facto de os munícipes serem constantemente impedidos de falar nas sessões da Assembleia Municipal de Monchique, um dos membros desta assembleia, afecto ao presidente, saiu-se com uma proposta no mínimo original: «só deveriam ser admitidas as intervenções de qualidade». Perguntei o que ele entendia por «intervenções de qualidade» e da resposta não fiquei a perceber nada.

2 comentários:

Anónimo disse...

Dá-lhes na cabeça! Não desistas!
Concordo inteiramente contigo no que toca à maneira como se encara a liberdade de expressão, tantos anos depois do 25 de Abril.

Se te quiseres rir vai ao blogue Controversa Maresia e procura um post qualquer em 20 e tal de Setembro em que a senhora do blogue se insurge contra a minha luta contra a censura.

E assume que apaga os comentários ordinários e os que são má onda. E depois pensa que eu sou um gajo que pelos vistos lhes faz a cabeça em água que se chama Deniz (ou Dinis) Costa.

Até aqui eu não disse nada, para a deixar a pensar que sou eu. E o outro gajo deve rir-se à brava. Mas agora a miúda é capaz de chegar aqui ao teu blogue e descobrir tudo. Deixá-lo! Já ficou na dúvida desde Setembro.

Esta cena decorreu de uma intervenção minha na Almedina do Saldnha, num debate sobre blogues, moderado pelo José Carlos Abrantes.
Eu ouvi tudo e depois perguntei o que as meninas achavam da censura nos blogues. Estavam lá ela (a Sofia da Controversa Maresia, a derreter em lume branco com o charme do Chico Viegas, que estava a curtir como é costume) e a Rita Barata Silvério, que tem o blogue da Rititi.
Por acaso nunca tinha entrado no blogue de nenhuma delas, mas as miúdas enfiaram a carapuça e disseram que eu já devia ter sido censurado e etc e tal.

Depois, como eu fui um gajo educado, não tiveram hipóteses de discutir comigo de forma desabrida.

Mais tarde, respondo a um inquérito do Luís Carmelo no "Miniscente" e generalizo esta questão da liberdade de expressão e da enorme censura que existe na bogosfera. É isso que espoleta o comentário na Controversa Maresia, em que a miúda baralha tudo e me trata por intelectual, imaginando coisas completamente falsas. Mas curti à brava. Quando queria rir-me, naquela semana, ia lá ao blogue dela. Tirando a música que estava sempre a tocar, que era secante. Houve um gajo que propôs que as pessoas pudessem desligar a música e a miúda disse logo:
"O blogue é meu, eu é que decido a música que tenho e não tiro".

Pois é, António. Há muita gente neste país que não descobriu ainda que o sofrimento da vida é grande e que a Morte a todos apanha.

Mas nós sabemos que há coisas imortais: como a nossa amizade banhada ao sol numa tarde de Feira do Livro nos teus autógrafos, com desdobramento numa noite de orvalho, com amigos da BD metidos à mistura.

E aí não há ninguém capaz de nos censurar. Eu já tenho o poema do meu epitáfio: "Tombstone". E publicado nas "Erecções" pequeninas, nas "Erecções" King Kong Size e até em espanhol, pela editora Desierto.

Posso descansar.

Anónimo disse...

Sugeria ao meu conterrãneo José Manuel da Venda,que se tivesse opturnidade,"forçasse"a revisão do Regulamento Da Assembleia Municipal de forma a poder ser permitido colher imagens de video,pelo público ou pelo menos por jornalistas.
era ver no outro dia...o top de visitas e partilhas no You Tube....
rsrsrsr
"tome lá o cartão do meu blog..
eu tenho um blog....
lá lhe darei a resoposta..."

Áh grande Armindo...

Mais uma vítima do "merdoso",que só frequentou ruís escolas!
De Democracia só conhece proveito.
Um homem nascido e criado em Monchique há 60 ou mais anos,não tem um só amigo?....
então Não Presta.
E não merece um só segundo da nossa vida ou uma mirada do nosso olhar.Mas...ocupa espaço!
Bem haja por perder o seu precioso tempo com as suas raizes.

Toninho da Foia