terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Textos sobre livros – 12




Um livro fabuloso, de um escritor igualmente fabuloso, o chileno Roberto Ampuero (na foto); mais um que em tempos teve de partir do seu país por causa de Pinochet.

Livro: «Encontro no Azul Profundo», de Roberto Ampuero (Temas e Debates, 330 pp.)

Tantos azuis

Um detective assiste ao assassinato de um potencial cliente. Podia ser o começo de um qualquer romance policial, mas não; é o começo de uma inesquecível aventura, narrada de forma apaixonante, entre as Américas e a velha Europa, sempre em tons de azul.

Cayetano Brulé é um detective cubano exilado no Chile. Uma noite assiste ao assassinato de um homem que com ele marcara um encontro; está sentado ao balcão do «Azul Profundo» e vê o seu potencial cliente ser baleado. É assim que começa uma inesquecível aventura, que o levará a Cuba, ao México e à Suécia, seguindo-se o regresso ao Chile. Sempre em tons de azul, ainda que profundamente diferentes.
Roberto Ampuero [n. Valparaiso, 1953], o autor, saiu do Chile aos 20 anos, como tantos outros perseguidos pela ditadura de Augusto Pinochet. O seu romance é também a história dos exilados e do regresso destes ao Chile pós-Pinochet no poder. Talvez se pudesse traçar algum paralelismo com Luis Sepúlveda, por ambos terem deixado o Chile, por terem idades próximas, até pela passagem pela Alemanha, por escreverem ficção, obviamente; mas da escrita de Ampuero ressalta imediatamente um empenho maior para com a literatura do que em relação aos ajustes de contas com a História e com os norte-americanos, mas sem nunca perder um profundo sentido de justiça.
Cayetano Brulé, um detective muito peculiar («sempre que saía para visitar a amante, lembrava a Suzuki que não metesse a pata na poça diante dos clientes. Não fosse aquele japonês com a cabeça ainda às voltas pelos pisco sours emborcados e a directa da véspera no Kamikaze, confessar que em plena crise económica escasseavam as encomendas e que o seu chefe matava o tempo em assuntos de índole amorosa»), não é uma personagem apenas deste romance. Já tinha surgido no início da década de 1990, e dele Ampuero fala com verdadeiro fascínio. Chegou mesmo a dizer, em entrevistas, que Cayetano lhe sobreviverá, e mais, que lhe fará o epitáfio, algo como «este escritor andou sempre à procura de uma verdade que fosse capaz de convencê-lo». Com «Encontro no Azul Profundo» convence de certeza os leitores mais exigentes. Leitura apaixonante, na senda de tantas outras oferecidas pelos grandes narradores sul-americanos.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Pouco a dizer

Boavista – 1, Sporting – 1 (Liedson). Pouco a dizer, ou quase nada. Apenas a sensação que me ficou quando vi no começo do jogo a constituição das equipas, sem surpresas, nomeadamente as opções de Paulo Bento; a sensação de que Sporting e Boavista alinharam assim…
– Sporting: Tonel e Rodrigo Tello; João Moutinho, Romagnoli e Nani; Liedson e Alecsandro.
– Boavista: William; Lucas, Hélder Rosário, Cissé e Nuno Pinto; Essame, Kazmierczak, Custódio, Ricardo Sousa e José Manuel; Linz, Ricardo, Caneira, Polga e Grezlak.
Eu, se fosse Paulo Bento, teria jogado com onze jogadores em vez de sete, e assim evitaria que o Boavista jogasse com quinze. Teria posto na baliza Tiago ou Rui Patrício, na defesa Abel (ou um júnior, se Abel não pudesse jogar), Tonel, um júnior em vez do sub-infantil Polga e Ronny (não colocaria Tello); a meio campo Miguel Veloso (não colocaria, nem por todo o ouro do mundo, o medíocre Custódio), João Moutinho, Carlos Martins (não colocaria Romagnoli) e Nani; Yannick (não colocaria Alecsandro) e Liedson. Parece-me mais do que óbvio, mas explicar isto a Paulo Bento…

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Lá vamos…

Sporting – 2 (autogolo, Liedson), Rio Ave – 1. Lá vamos em frente na Taça, um bocado aos tremeliques. Por incrível que pareça, Custódio deu uma cabeçada que quase resultava em golo; uma vez marcou um golo em Newcastle numa jogada parecida. Enfim, não há regra sem excepção: um jogador medíocre também pode marcar um golo. Contínuo convencido de que a época acabou, apesar de ser possível ganhar a Taça. E continuo convencido de que vamos ter os jogadores-problema Ricardo, Polga, Caneira e Custódio firmes na equipa até ao fim.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

O senhor doutor (II)

E mais outra notícia, agora do «Sol».

Visita presidencial à Índia
Cavaco desvaloriza manifestação de estudantes goeses
A manifestação contra a atribuição de um doutoramento honoris causa pela Universidade de Goa foi desvalorizada pelo Presidente da República, Cavaco Silva, que afirmou não ter ficado incomodado
«Não estou incomodado. Até porque sei que quer as autoridades de Nova Deli quer as autoridades daqui [Goa] disseram que rejeitam completamente estas atitudes, muito minoritárias, contra Portugal», afirmou Cavaco Silva aos jornalistas que acompanham a sua visita de Estado à Índia, após a cerimónia de doutoramento honoris causa.
Antes da cerimónia, à porta da Kala Academy, cerca de 30 pessoas, na sua maioria jovens, manifestaram-se ruidosamente contra o doutoramento atribuído a Cavaco Silva, um estrangeiro e Presidente de um país que foi potência colonizadora em três territórios na Índia - Goa, Damão e Diu.
Do outro lado da rua onde se situa a Universidade, os manifestantes gri tavam palavras de ordem e empunhavam cartazes com inscrições em inglês e hindi como «Abaixo o Imperialismo» e «14 de Janeiro - Dia negro para a Universidade de Goa».
Os manifestantes, segundo um seu porta-voz, pertencem a uma organização nacional de estudantes, considerada de direita, a Akim Bhartiya Vidyartih Parishad.
A organização defende que, antes do grau de doutor honoris causa ser recebido por um estrangeiro, deveria ser atribuído a um cientista - Pakhunath Ma shelkan - e a uma cantora - Leta Mageshtar.
Esta é, aliás, a primeira vez que a Universidade de Goa entrega um doutoramento honoris causa e essa decisão foi atribulada, tendo-se registado algumas resistências por parte das autoridades de Goa.
O protesto foi curto, Cavaco Silva nem sequer viu nada - dado que já estava na sala da cerimónia -, mas a polícia interveio, colocando os manifestantes numa carrinha e deixando o local escassos 20 minutos após o início do protesto.
Já depois da cerimónia, Cavaco Silva desdramatizou tanto a manifestação como as alegadas resistências ao seu doutoramento, que foi em literatura e não em economia, área de formação do Presidente.
«Não senti qualquer ressentimento. Pelo contrário. Não era eu que puxava a conversa... O Presidente da República e o primeiro-ministro eram eles próprios que sublinhavam que ficariam ofendidos se tivesse vindo à Índia e não visitasse Goa», disse.
Lusa/SOL

O senhor doutor

Coloco abaixo uma outra notícia, agora da TSF, sobre Cavaco Silva doutor em Literatura (???).

ÍNDIA
Cavaco desvaloriza protesto contra o seu «honoris causa»
( 19:00 / 14 de Janeiro 07 )
Cavaco Silva desvalorizou o protesto de dezenas de estudantes de direita, contra a atribuição do primeiro doutoramento «honoris causa» da Universidade de Goa a um português, e realçou a atitude positiva dos indianos em relação à herança portuguesa naquele país.
O Presidente da República, Cavaco Silva, desvalorizou, este domingo, a manifestação de dezenas de estudantes indianos contra a atribuição do primeiro doutoramento «honoris causa» pela Universidade de Goa a um português.«Não estou incomodado, até porque sei que quer as autoridades» de Nova Deli quer as de Goa «disseram que rejeitavam totalmente estas atitudes, muito minoritárias, contra Portugal», afirmou Cavaco Silva aos jornalistas, após a cerimónia de doutoramento «honoris causa».O Presidente da República escusou-se a comentar o incidente, considerando-o «um problema de politica interna», e insistiu em afirmar que a «relação cultural» entre Portugal e índia «é um activo».Quer em Nova Deli quer em Goa «encontrei, em todos os líderes, uma atitude positiva em relação à herança portuguesa» e, por todo o lado, «o que ouvi mais vezes foi a afirmação de que estes laços históricos com Portugal valorizam Goa como espaço de atracção turística», rematou. Cavaco Silva recebeu o primeiro doutoramento «honoris causa» em Literatura da Universidade de Goa, não enquanto presidente da república portuguesa, mas como professor doutor de Economia. Antes da cerimónia de entrega do doutoramento, cerca de 30 pessoas manifestaram-se ruidosamente contra a atribuição deste doutoramento a um estrangeiro e presidente de um país que foi potência colonizadora em três territórios na Ìndia - Goa, Damão e Diu.Os manifestantes, pertencentes a uma organização nacional de estudantes, considerada de direita, a Akim Bhartiya Vidyartih Parishad, empunhavam cartazes com inscrições como «Abaixo o Imperialismo» e «14 de Janeiro - Dia negro para a Universidade de Goa».

domingo, 14 de janeiro de 2007

Pergunta

A que é que se pode comparar a atribuição de um doutoramento em Literatura (ainda que honoris causa) a Cavaco Silva?

(responder, por favor, no espaço de «comentários»)

Deve haver aqui algum erro

Copio esta notícia do site do «Público»…

Estudantes indianos de direita contestam atribuição do grau
Doutoramento de Cavaco Silva provoca manifestação em Goa
14.01.2007 - 12h01 PUBLICO.PT, : Nuno Simas/Lusa
O doutoramento honoris causa do Presidente português Cavaco Silva, atribuído hoje pela Universidade de Goa, foi marcado por uma manifestação de alunos que protestavam contra a entrega deste grau a um cidadão estrangeiro, algo que acontece pela primeira vez naquela faculdade.
Os cerca de 30 manifestantes, que foram detidos pela polícia, empunhavam cartazes com inscrições em inglês e hindi como "abaixo o imperialismo" e "14 de Janeiro - Dia negro para a Universidade de Goa".
Este incidente deu-se em frente à Kala Academy onde decorreu o doutoramento em literatura de Cavaco Silva, que não assistiu à manifestação.
Esta é a primeira vez que a Universidade de Goa entrega o doutoramento honoris causa, tendo escolhido um cidadão estrangeiro para o efeito.
Segundo os manifestantes, a organização estudantil de direita criticou a entrega deste grau académico e defendeu que essa distinção devia ser dada a goeses ou indianos.

Não me interessa a manifestação dos estudantes, embora a compreenda, especialmente pela figura escolhida. Mas em literatura???
Nota - Este post não é o original; alterei, a pedido de várias famílias, a comparação que fiz inicialmente (e que esteve on-line durante um bocado) para mostrar como a situação é completamente descabida. De qualquer forma, aceito aqui sugestões nos comentários (respostas à pergunta «A que é que se pode comparar a atribuição de um doutoramento honoris causa em literatura a Cavaco Silva?»).

Dizer o quê?

Belenenses – 0, Sporting – 0. Sem comentários. Se comentasse, ia dizer o quê?

Textos sobre livros – 11

Mais um livro, lido já vai para um ano ou dois – aliás, vendo pelo título, é fazer as contas (como disse uma vez um palerma em directo na televisão).

Livro: «Trinta Anos de Democracia – E Depois, Pronto», de Clara Pinto Correia (Relógio D’Água, 107 pp.)

A ditadura que ainda entendemos mal

Um «sermão» sobre o Portugal dos últimos trinta anos, que muita gente devia ouvir, ou antes, devia ler. Uma visão lúcida, sem meias palavras e, sobretudo, muito, mas mesmo muito clara, sobre uma «nova ditadura» que a autora diz ainda entendermos mal.
Eu tinha seis anos no 25 de Abril, e não foi nada bom. Desse dia, o que me ficou bem marcado na memória foi o golpe que fiz num dos polegares, em brincadeiras na casa da minha avó. Uma faca, foi isso que me abriu o polegar e o fez ficar depois nuns tons azulados. Já à noite, quando vi na televisão os novos senhores do país, enfim, naquela idade tanto se me dava, ainda que ficasse desconfiado ao ouvir que dos que apareciam na televisão se calhar o único que se aproveitava era o Fialho Gouveia, e que na volta os monstros que iam embora tinham ali uns substitutos à altura. O passar do tempo foi-me mostrando que aquelas reticências tinham muitas razões de ser. Acabaram por surgir outras caras, veio a cor na televisão, e hoje só posso dizer que foi muito bom. Como Clara Pinto Correia, que «tinha 14 anos no 25 de Abril».
É assim, com a idade, que ela começa «Trinta Anos de Democracia – E Depois, Pronto». E continua: «Foi muito bom./ E não tenho qualquer espécie de dúvida de que a vivência democrática que iniciámos a seguir deu frutos preciosos que nunca poderíamos ter recolhido da atmosfera rarefeita que andávamos a respirar antes. Basta olhar para pessoas que admiro, ou recolher amostragens pessoais entre os meus amigos e familiares. É indiscutível que foram esses tempos complexos que permitiram que…» Seguem-se inúmeras referências, a nomes e obras que só mesmo uma outra «atmosfera» permitiu que surgissem em Portugal. «Foi muito bom.» Foi mesmo muito bom. Só que… «Mas, entretanto, precisamente enquanto estava a ser possível acontecer tudo isto, foram passando três décadas./ E durante esse espaço de tempo, lentamente, subtilmente, ocorreu um fenómeno paralelo do qual provavelmente ninguém estava à espera. Quase não demos por ele enquanto esteve a definir-se. Não temos qualquer marco preciso para podermos estabelecer quando é que foi que o deslize começou a acontecer e como./ (…) Aquela ditadura antiga, (…) na sua face visível, foi substituída por outra ditadura diferente, que nós ainda entendemos mal, e que não se fez anunciar por hino absolutamente nenhum.» É esta «nova ditadura» que Clara Pinto Correia apresenta em cerca de cem páginas sobre o Portugal dos últimos trinta anos. Para quem ainda não a conhece, ou para quem a conhece, até de ginjeira, mas simplesmente não se preocupa com ela, com os caminhos que segue, se calhar porque lhe falta a polícia política, a televisão a preto e branco e os senhores de voz tremelicante.
Clara Pinto Correia escreveu um texto notável sobre os 30 anos que se seguiram ao 25 de Abril. Um «sermão», como se deduz das inúmeras referências ao longo do livro, desde uma nota de abertura intitulada «Sermões aos Peixes» até promessas de novos sermões para assuntos específicos em notas de rodapé. Um texto notável, pela lucidez com que analisa o que nos tem vindo a acontecer, e de uma clareza impressionante, bem escrito, fluente e incapaz de chatear o leitor, nem que seja num qualquer recanto de uma frase. Se as análises que por cá vão surgindo fossem assim escritas, decerto já entenderíamos na perfeição a «nova ditadura». Talvez não passasse já de uma simples recordação, num país verdadeiramente democrático.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Li agora...

Li agora no site do «Record»…

Peseiro: «Lembrei-me do erro que cometi no Sporting»
TÉCNICO EXPLICA SAÍDA DO AL-HILAL

José Peseiro explicou a saída do Al-Hilal com as diferenças de perspectivas com os dirigentes. «Lembrei-me do erro que cometi no Sporting quando aceitei continuar sem condições pensando mais no clube do que em mim», justificou.O treinador faz um balanço positivo da experiência na Arábia – equipa lidera campeonato – e o objectivo passa por treinar outra equipa no estrangeiro, que até pode ser no mesmo país.
«Entendi que era melhor sair por falta de condições de rigor e profissionalismo, que podiam colocar em causa o futuro da equipa», disse.No próximo domingo vai a uma festa de despedida com todos os jogadores e staff.

Já cá faltava este cromo…